Corrigindo falhas
O G20 – grupo das 20 maiores economias do mundo, o Brasil no
meio – solicitou e recebeu da OCDE – Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico, grupo de 34 nações que defendem princípios de
democracia representativa e promove a livre organização dos mercados – uma
proposta para estabelecer normas coordenadas para combater as falhas dos sistemas
fiscais globalizados e de controle da movimentação desordenada de capitais.
O problema é mundial, prejudica a todos os que querem agir dentro
da lei e apenas beneficia a grandes multinacionais, grandes fortunas e recursos
obtidos de forma ilícita, sem contar que também faz a alegria do crime
organizado.
O
secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría, sublinhou que “este plano, quando aplicado, marca uma viragem na história da cooperação internacional" e
mostrou-se convencido de que permitirá aos países estabelecerem "as normas coordenadas, completas e
transparentes que necessitam para evitar a erosão da base tributária e a transferência
de benefícios".
Como exemplo,
vale recordar que muitas das normas internacionais em vigor - com base nas
quais se elaboraram acordos para evitar a dupla tributação - datam da década de
1920!
Especialistas
estimam que num prazo de dois anos sejam assinados os primeiros acordos para
correção das distorções do sistema financeiro globalizado Tomara!
Os paraísos
Daí, não é por casualidade que hoje chegamos aos 22 trilhões de dólares –
aproximadamente 35% do PIB mundial ou equivalente à soma da riqueza produzida
anualmente pelos EE. UU. e o Japão – que
é pasmem! o total financeiro desviado
para paraísos fiscais por esses possuidores&sonegadores de uma parte substancial
da riqueza do Planeta. E isso não é tudo: Existem indicações que podem ser
acrescentados outros 10 trilhões em
propriedade e outros ativos – uma China – a essa montanha de dinheiro que
indica a distorção obscena, acima de qualquer justificativa ou análise, do
sistema de distribuição da riqueza mundial.
Essas informações são
parte do relatório “The Price of
Offshore Revisited”, de autoria de James Henry, ex-economista chefe de
McKinsey & Company, uma das maiores e mais prestigiosas firmas de
consultoria do mundo, e foi preparado por solicitação de Tax Justice Network – uma das entidades líderes do globo no combate
á corrupção, usando dados do Banco de Compensações Internacionais, do FMI, do
Banco Mundial e de governos locais.
Lembrete curioso: Ainda que
não considerado oficialmente um “paraíso fiscal” – provavelmente, para não
cutucar com vara curta o Tio Sam – o pequeno estado de Delawere - no nordeste
dos EUA, com menos de 900.000 habitantes e 6.500km2 de superfície- tem uma
legislação extraordinariamente favorável à instalação e operação de empresas,
da qual se aproveitam (festivamente) mais de 200.000 organizações estrangeiras,
entre elas, dezenas de brasileiras.
Uma luta sem trégua
A Transparência Internacional - sem dúvida a
mais atuante e competente das organizações que denunciam os ilícitos
internacionais ao mesmo tempo em que promove práticas transparentes no trato
dos assuntos econômicos e financeiros - tem alertado constantemente para as
distorções o sistema financeiro internacional que, entre outros usos
condenáveis, é utilizado com freqüência para servir de aliado ou de disfarce
para práticas desonestas, típicas do crime organizado, como tráfico de drogas,
corrupção, sonegação, terrorismo, venda ilegal de armas, tráfico de pessoas,
chantagem, prostituição, uso indevido do dinheiro público. enriquecimento ilícito...
Infelizmente, a lista é longa!
Só para simplificar: A ONU
(Organização das Nações Unidas) estima que aproximadamente 25% do movimento
financeiro transoceânico global têm origem em essas atividades ilegais. E, por
força da inércia, passam obrigatoriamente pela intervenção das 200 maiores instituições
financeiras do mundo que obtêm polpudos benefícios dessas operações!
De tudo isso, apesar do estardalhaço
do “mensalão”, o Brasil, na verdade, é apenas um pequeno aprendiz quando
comparado às falcatruas do “sistema” que, como não podia ser diferentes, conta
com a cumplicidade e com ajuda das benesses de uma legislação prá lá de
permissiva, que usa, entre outros, os motes de “soberania nacional”, “direitos
adquiridos” e “solidariedade corporativa” para proteger interesses obtusos que
tem guarida nos tortuosos meandros dessa faceta ruim da natureza humana e da
economia globalizada.