segunda-feira, 30 de setembro de 2013

TERRAS PARA CONQUISTAR





Comparativamente, Brasil e China têm duas imensas fronteiras geográficas a conquistar, cada uma com aproximadamente 5.000.000 Km2, pouco habitadas, plenas de riquezas e promessas de uma revolução sem precedentes na ocupação dos seus respectivos territórios. Mas é até uma ousadia comparar a Amazônia brasileira – cuja fragilidade ambiental recém agora começa a ser melhor conhecida e respeitada – com o Oeste da China, de altas montanhas, vales imensos, gigantescas áreas aptas para uso agrícola sem necessidades de agredir o meio ambiente, com grandes reservas minerais, enfim, uma região para desbravar e ocupar economicamente sem agredir o meio ambiente.  

Problemas existem, é claro, do tamanho de suas potencialidades, a começar pela distancia até a costa e o acesso aos grandes mercados, tanto internos como do exterior. E, não menos crucial, a falta de infra-estrutura para abrigar grandes contingentes humanos. Mas, a China tem um plano - ora em execução acelerada - tem os recursos, tem a vontade política e tem a determinação mil vezes provada ao longo de sua história. 

Por outra parte, é muito importante realçar a formidável diferença entre o modelo de desenvolvimento que está sendo ora implementado, com aquele adotado pelo gigante asiático nas últimas três décadas, quando a consigna maior – e irrefutável – era crescer a qualquer custo para tentar desmontar a gigantesca bomba social herdada da era Mao, que ameaçava esfacelar irreversivelmente a sociedade chinesa e, por contagio geopolítico natural, arrastar o resto do planeta a conflitos de desenlace imprevisível pelo potencial que tinha de atritar a Índia, a Rússia, o Japão e os EUA.

Então, era preciso crescer rapidamente para gerar os recursos imprescindíveis para evitar o pior. Mas, toda essa afobação gerou uma vítima inocente, até naturalmente comprazente, que foi agredida, violada, usada, dilacerada e com isso, deu sua contribuição imprescindível para o sucesso do projeto de crescimento acelerado: O meio ambiente.

E que, desde o início do processo, lá por 1978, até o início do Século XXI, China era o paraíso das indústrias poluidoras – multinacionais umas, locais outras – que, mercê exigências ambientais frouxas ou inexistentes, deitavam e rolavam sem dar a mínima para os danos ambientais, com a única preocupação de produzir mais...e lucrar o máximo.

Resultado: a China rivaliza com os EE. UU o execrável título de maior gerador de gases de efeito estufa do mundo, ao que deve acrescentar  os danos terríveis causados a seus sistemas de sustentação da vida natural, especialmente a seus grandes rios.

 Felizmente, tudo mudou. Nos últimos anos, a China tem multiplicado seus esforços para remediar os erros do passado e pautar o desenvolvimento futuro num zelo absoluto pela preservação ambiental. No formidável esforço da conquista do Oeste, os cuidados ambientais são condição básica para execução de qualquer projeto, o que, de resto, é exigência sine-qua-non para qualquer obra, em qualquer lugar da terra do dragão.

Hoje, pode afirmar-se que a China aprendeu sua lição e, a seu favor, deve lembrar-se que é o país que mais investe no planeta para corrigir os erros ambientais do passado e evitar sua repetição, no presente e no futuro.

Nesse novo mundo integrado pela região oeste da China, são imensas as oportunidades para os exportadores brasileiros que pretendem participar nos grandes mercados globalizados que estão começando a ter presença no cenário internacional.




sexta-feira, 20 de setembro de 2013

PARADOXOS



Nos últimos cinco anos – período no qual a crise globalizada teima em fazer suas vítimas nos setores mais frágeis do sistema econômico – o Brasil tem demonstrado um vigor invejável na criação de empregos, ainda que recentemente esse crescimento da mão de obra aparece fortemente enfraquecido. Com a luz amarela piscando, são necessárias ações inovadoras para ocupar as legiões que buscam e querem participar  como atores no desenvolvimento do país que, por outra parte, está longe em registrar índices adequados às suas  necessidades e potencialidades. 

A crise está gerando conflitos inevitáveis de adaptação a uma nova ordem de relacionamentos entre o capital e o trabalho, ambos acuados por essa nova realidade que, numa face, estabelece a competitividade como símbolo máximo da excelência empresarial com sua implacável relação custo/benefício-máquina/homem; e noutra mostra a perversidade de uma equação nefasta: menos emprego, menos renda; menos renda, menos consumo; menos consumo, menos demanda; menos demanda, menos vendas; menos vendas, menos produção; menos produção, menos investimentos; menos investimentos, menos crescimento; menos crescimento, menos empresas, menos empresas, menos empregos.....É assim por diante, num “modus perpetuo” , recomeça o círculo sinistro, cuja força de atração atrai de forma insensível para o desespero e a fome uma parcela significativa da sociedade.

É claro que existem mecanismos para solução desse paradoxo da sociedade moderna. Um deles, para aplicação imediata, seria a formação de exércitos de pequenos empresários – ex empregados - que, sob a égide do empreendedorismo encontram a motivação e os incentivos necessários para constituir pequenos empreendimentos para dar asas a sua vontade de sobreviver economicamente e gerar riquezas.

Sem esquecer que a pequena empresa tem, pelo menos, duas características especialmente positivas: a) a relação capital - empregos gerados é muito pequena, ou melhor, com pouco investimento são gerados muitos empregos, o que é a fórmula ideal para os países pobres e os emergentes, como o Brasil: b) sua inquestionável capacidade de distribuir renda e assim contribuir diretamente para a melhor qualidade de vida da maioria da população.

Isso faz da pequena empresa uma fábrica de desenvolvimento econômico socialmente sustentável.

O mecanismo é muito simples: a) crédito abundante, a juros compatíveis com a função social do objetivo proposto, subsidiado se preciso; b) sistema eficaz de informação de negócios; c) menos burrocracia - com dois “rr” mesmo; d) lideranças, que em vez de gastar tempo e energia tentando achar bodes expiatórios, trabalhem com vigor e proclamem aos quatro ventos “nós podemos crescer mais, sim”. Aliás, a timidez dos gestores oficiais em tentar ações mais ousadas para acelerar o desenvolvimento apenas pode ser explicada pela necessidade de evitar compromissos que, se não concretizados, possam pôr em risco  seus altos cargos.

Ninguém pode negar que o Brasil precisa e pode crescer muito mais que esses pobres  resultados registrados nos últimos anos que, por outra parte,  apenas servem para encobrir incompetências traduzidas na governança improdutiva da gestão econômica




sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O ANO DA SERPENTE **

Na foto os atuais líderes do BRICS: Dilma Rousseff (Brasil); Vladimir Putin (Rússia); Nanmohan Singh (Índia); Xi Jinping (China); Jacob Zuma (África do Sul).






O globo em xeque

Lenta e penosamente os primeiros indícios começam sinalizar o princípio do fim da queda cavalar da economia planetária, ainda não totalmente recuperada da crise ocasionada pelo estouro da bolha dos créditos podres na qual navegavam negligentemente as grandes instituições financeiras globais na primeira década do Século XXI.

Os últimos números da economia mundial indicam uma performance no mínimo promissora de tempos melhores, com a China encabeçando esse início de recuperação com seus robustos 7,5% de crescimento – que a segunda economia do mundo deve emplacar, tranqüilamente, em 2013 - e as principais potências planetárias, EUA na cabeça, com desempenhos bastante positivos, acima daqueles números nebulosos pressagiados por muitos economistas que só sabem ver tintes ameaçadores no futuro, fazendo assim  jus à fama de “feiticeiros da ciência sombria”, tal como batizados por Thomas  Carlyle no Século XIX.

 Terrível, a crise corroborou para uma quase recessão que levou de roldão a maioria dos países, mas também confirmou, de modo inequívoco, a relação de interdependência, progressiva e inevitável, da nova arquitetura da economia globalizada, que podemos sintetizar num antigo ditado de Confúcio, de 25 séculos atrás: “Todos dependemos de todos”.

Os BRICS

Nesse cenário conturbado, de luzes e de sombras, de contradições e de sofrimento daqueles que menos têm e menos podem – as vítimas prediletas dos sistemas econômicos que dominam o mundo – o  papel dos BRICS – grupo integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – tem exercido um papel positivo e contribuído para diminuir os efeitos negativos da convulsão global, atingindo um crescimento médio anual de 4,3%, quase três vezes superior à média mundial.

Esse grande ator planetário têm credenciais mas que suficientes para fazer a diferença: Reúne 3,0 bilhões de habitantes, 43% da população mundial; seu PIB (Produto Interno Bruto) já ultrapassa os US$13 trilhões, 16% do total global e, pelo andar da carruagem, deve ultrapassar àquele dos EUA e da UE - possivelmente bem antes de 2020; três deles - China, Rússia e Índia - são potências atômicas e incursionam agressivamente na conquista espacial; possuem recursos naturais imensos, especialmente o Brasil, muitos ainda para serem explorados; seu imenso território conjunto, de mais de 44 milhões de Km2, é quase cinco vezes maior que a superfície dos EUA e marca presença em quatro continentes; o crescimento de sua economia é, de longe, aquele que dá a maior contribuição ao desenvolvimento mundial; e, de um modo ou outro, com exceção da Rússia, compartem o mesmo passado de dominação e exploração por parte dos países mais ricos, o que, de muitas maneiras, contribui para uma visão diferenciada da realidade e dos mecanismos para solução dos graves problemas que afligem a humanidade.

O imenso sentido histórico dessa aliança deve marcar os rumos do século XXI e será cada vez mais palpável na medida que se consolide uma postura conjunta para abordar as questões planetárias, o que, de fato, já é realidade em dezenas de temas importantes que ocupam a agenda da governança mundial.
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São Petersburgo

No último final de semana, no intervalo do Cume do G20, em São Petersburgo, as lideranças máximas dos BRICS, avançaram na finalização de acordos substanciais, entre os quais a formação de um fundo comum para enfrentar a volatilidade do sistema financeiro – amplamente dominado pelas principais economias do mundo liberal&capitalista – e a criação de um banco de desenvolvimento, com recursos destinados a financiar projetos de infra-instrutora nos países membros. (Muito bom para o Brasil!).

O que, de outro modo, concorrem com as estruturas tradicionais lideradas pelo Banco Mundial e passam a fazer parte de uma nova ordem mundial, escorada no projeto maior de integração Sul-Sul, que deve pautar as transformações mais intensas na economia, na tecnologia, no comportamento da sociedade, na proteção ambiental e na qualidade de vida da civilização que conhecemos, já a partir da segunda metade do Século XXI.

 Em São Petersburgo, os “cinco companheiros da viagem para o futuro” deixaram claro que pretendem ter um papel de protagonistas principais nessa transformação revolucionária.

**Registro: Este é o ano 4711 no calendário chinês, iniciado em 10 de fevereiro de 2013 sob o signo da serpente. Nosso título faz referência a que a China é o país que dará a maior contribuição ao crescimento global com efeitos positivos na redução da crise e na aceleração da recuperação da economia mundial.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O INIMIGO LÁ EM CASA


Sintomas preocupantes

Tem algo de muito errado no badalado conceito de “Segurança Nacional” - ícone sobressalente da espionagem americana - em cujo nome se comete as maiores tropelias que se tem memória em tempos de paz, passando por cima de direitos, individuais e coletivos, seja lá onde for, e pisoteando as boas normas de convivência internacional.

Em nosso caso, não pode passar por alto a péssima impressão que isso causa aos latino-americanos desde que esse proceder traz á memória os tempos aziagos do final do Século XIX e boa parte de Século XX quando, com um porrete numa mão e um punhado de dólares na outra, os EUA intervinham abertamente na modelagem econômica e política da América Latina, sem dar a mínima para o custo humano, psicológico e social da maioria dos habitantes da região. 

È forte a percepção que existe algo de nebuloso nesse crescente interesse nos acontecimentos da América Latina - e do Brasil, seu principal expoente – corroborado pela presença (necessária?) da IV Frota dos EUA patrulhando águas do Atlântico Sul desde 2008, numa evidente demonstração de força do “xerife” do planeta.

Ou melhor: O que se oculta por detrás dessas ações? Porque são muito difíceis de engolir as desculpas (explicações?) correntes das quais a diplomacia deita mão para tentar esclarecer fatos condenáveis. “Não acredito em bruxas, mas que existem, existem”.

Dúvidas

Como muito bem afirmava Alvin Toffler no seu clássico “As Guerras do Futuro”: A quarta guerra mundial será travada no campo do conhecimento bem alimentado pela informação. Os vencedores serão aqueles que melhor conseguem utilizar o poder dessa dupla, elevada à categoria de arma irmã do terror nuclear”

Deixando um pouco de lado os bla-bla-bla da linguagem diplomática bem comportada – insuperável na arte de esconder a verdade – e apenas repassando os registros históricos, não é difícil  encontrar dezenas de “motivos justificáveis” na visão especial da NSA (sigla em inglês da Agência Nacional de Seguridade dos EUA) para manter o olhar atento (eufemismo para espionagem) em governos, entidades e pessoas desta região e do resto do mundo.

Os motivos – alguns evidentes, outros nem tanto e merecem a classificação  de “top secret” no  melhor estilo de Guerra Fria - podem serem alinhados sob diversos disfarces, entre  os quais despontam os estratégicos, os econômicos  e os militares, sem esquecer os puramente burocráticos para justificar o aumento das dotações gigantescas para alimentar a “máquina”,  que só nos últimos 10 anos aumentaram em mais de 120%. E  por aí vai.

Ah, e para alegria do “sistema”, a espionagem é também um negócio que, segundo a Transparência Internacional, movimenta centenas de bilhões de dólares todos os anos!

Amanhã

De tudo esse “imblógio” e para livrar-se do atrelamento aos EUA, na defesa da soberania e da independência nesse setor estratégico, os países da região começam a montagem de seus próprios sistemas de comunicação a nível global, com o lançamento de satélites e a instalação de suas redes internacionais de fibra óptica. 

Especificamente, o Brasil já em 2015 terá seu próprio satélite de comunicações – tecnologia conjunta Brasil-China, fruto do Acordo Estratégico de Cooperação de junho/2012 - e fará parte importante da rede de cabos projetada para unir todos os países da UNASUL – União das Nações Sul - Americanas.

É claro que sobrarão explicações (explicações?) para tentar reduzir a importância desses eventos censuráveis. Mas não será possível borrar a desconfiança e o temor de que os EUA, sem entender nitidamente as transformações heterogêneas que tiveram (e têm) lugar na região, prefira percorrer o tortuoso caminho do ilícito para tentar manter prestigio e poder. Ou melhor: Entender e aceitar que os países no Sul do Rio Grande já não são mais parte do quintal da Grande Potencia do Norte.

Ambições aparte, é bom registrar que o espaço regional é a maior e mais rica área do planeta em biodiversidade, água e recursos naturais. Fundamentais para a civilização da 2ª. Metade do Século!