Zona
de perigo
O objetivo fixado pela comunidade
internacional na Conferencia Mundial sobre a Mudança Climática (Copenhague,
dezembro 2009), é manter a temperatura media da terra em uma condição de no
máximo +2°C em relação aos níveis registrados antes da era industrial, mais de
300 anos atrás. E advertem que caso os 2ºC sejam superados - o que pode
acontecer como resultado de uma concentração excessiva na atmosfera de dióxido
de carbono ** (CO2), notório vilão causador do efeito estufa, em nível anual médio
igual ou superior 400 PPM (partes por milhão) - é possível prever que o “planeta entrará em um sistema climático
marcado por fenômenos extremos”.
Presentemente,
no mundo real, de acordo com os dados monitorados pelo Painel Intergovernamental
sobre Mudanças Climáticas da ONU, já existem registros de que esse limite foi alcançado no primeiro semestre de 2013 em boa parte do
Hemisfério Norte, deixando o mundo em uma "zona de perigo".
A diretora das Nações Unidas
para o Clima, Christiana Figueres, comenta esse resultado destacando: “O mundo tem que acordar e perceber o que
isto significa para a segurança dos seres humanos, para seu bem-estar e seu
desenvolvimento econômico” E assinala: “Ainda
existe uma oportunidade para evitar os piores efeitos da mudança climática, sendo
urgente que a comunidade internacional ofereça uma resposta eficaz para enfrentar
este desafio".
Rajendra Pachauri,
presidente do Painel, enfatiza: “Sem um
pacto global, a Terra vai enfrentar as consequências da elevação das temperaturas,
o que vai resultar na extinção de espécies de plantas e de animais, na
inundação de cidades costeiras, em eventos climáticos extremos, em secas e na
disseminação de doenças. As evidências são muito claras desses eventos
catastróficos e da necessidade urgente
de ações para combater o aquecimento global”.
O sinal amarelo está acesso!
Pedras no caminho
Contudo, no longo e árduo caminho para
alcançar um planeta mais limpo e seguro não podemos esquecer que inimigos poderosos
estão à espreita, agrupados sob o rótulo genérico de interesses, sempre flanqueados pela
insensibilidade, o egoísmo e a cobiça, unidos acintosamente para impedir ou, pelo menos retardar, a efetivação das medidas
necessárias para cumprir esse objetivo que, no final das contas, é um passo
fundamental na passagem para criação da civilização dos próximos séculos.
Em seu polêmico documentário, de 2006, Uma verdade
Inconveniente, o vice-presidente do governo de Bill Clinton
(1993-2001), Albert Arnold Gore, político, escritor, ativista ambiental e
Premio Nobel da Paz em 2007, alertava para os danos causados ao planeta pelo
aquecimento do clima e clamava por uma maior atenção dos governos para adoção
de medidas urgentes para corrigir essa situação.
Uma verdade Inconveniente passou a ser a
primeira mostra documentada deste Século de que algo anda muito mal e que são
necessárias medidas urgentes e globais para deter essa ameaça que coloca em
risco a sobrevivência de nossa civilização nos tempos que virão.
Outra verdade não dita, sem dúvida muito inconveniente, é que uma
mudança no modo atual de produzir riqueza nos moldes que regem a economia do
planeta – seja capitalista, seja socialista – pode ocasionar alterações
radicais na geografia do poder globalizado, prejudicando sensivelmente o
predomínio das nações mais poderosas e que, como decorrência, alberga os
maiores interesses, politicamente guardados sob o guarda-chuva de “falar e prometer muito, porém fazer pouco”
o que, na melhor das hipóteses, faz que o inevitável processo de transformação
seja o mais lento possível.
De tal modo, com a ajuda indispensável da cortina de fumaça da promoção
do bem-estar e do aumento do consumo, se ganha o tempo necessário para criar
e consolidar monopólios, estratégias, sistemas, produtos, mercados, patentes e
aperfeiçoar as organizações, tudo isso imprescindível para manter o
“sistema” sob controle de seus atuais donos.
E para reflexionar destacamos dois fatos relevantes:
1) Desde que informações começaram a ser coletadas em 1979, o gelo marinho do Ártico –
indicador importante de mudanças climáticas - atingiu sua menor extensão em
2012, com 3,41 milhões de km², valor esse 50% menor que a média 1979/2000, estabelecendo de tal
modo um novo recorde negativo de cobertura durante o verão ( hemisfério
norte); 2) Os dados do Instituto Nacional de Ciências Geofísicas da
China, que vem monitorando a espessura da camada de gelo do Himalaia desde
1970, revelam que essa cobertura sofreu um
decréscimo de quase 30% nos últimos 25 anos. Bem, não podemos esquecer que,
para eles, o degelo do Himalaia é fonte de pouco mais de 70% das águas dos
principais rios chineses – Yangtze e Amarelo – que irrigam a produção de grande
parte das culturas que alimentam os 1.360 milhões de habitantes do Dragão
Asiático. Lá também, literalmente, água é vida!
Ainda sobre o Ártico: Mark Serreze, diretor do Centro Nacional de Neve e
Gelo (NSIDC) dos EE. UU avisa: "Nós estamos agora em território
desconhecido. Ao mesmo tempo em que já sabíamos que à medida que o planeta se
aquece, mudanças serão vistas primeiro e mais pronunciadamente no Ártico,
poucos entre nós estavam preparados para a rapidez com que essas
mudanças iriam ocorrer. Isso tem impacto no clima do hemisfério norte, podendo
resultar em condições extremas, como secas, ondas de calor e enchentes”.
A luta é contra o tempo. Falta saber se o paciente – a Mãe Terra –
suportará os danos dessa demora
.
Um sinal positivo
Pelos seus efeitos potenciais, em um
reconhecimento implícito do perigo que ronda a maior economia do mundo, o
presidente dos EUA, Barack Obama, apresentou recentemente ao Congresso Norte-Americano
uma iniciativa de alcance extraordinário para redução de gases contaminantes e
conversão gradual da indústria de seu país para o uso de energias alternativas
não agressoras do meio ambiente. Um grande passo à frente pela nação que tem a (má)
fama de ser o segundo maior poluidor do mundo. (A China já é o primeiro).
Em todo caso, aqui por nossas bandas, não está
demais lembrar a Constituição da República Federativa do Brasil, no capítulo VI, Artigo
229: “Todos tem o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à
sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e dever de defendê-lo e à
coletividade o de preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. E complementa: “A Mata Atlântica, a Serra
do Mar, o Pantanal Mato Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional e
sua utilização será feita na forma da lei, dentro de condições que assegurem a
preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais”
.
Será que isso é obedecido plenamente?
Resumindo: Queiramos ou não, gostemos ou não,
consciente ou inconscientemente, em menor ou maior grau, somos também
responsáveis pelo perigo que nos ronda, desde que, de uma forma ou outra, todos
somos (felizes?) usuários de nosso sistema de vida, construído “duela a quién duela” na trilha desse predador incansável chamado Homem.
**Os principais poluentes ambientais são: dióxido de carbono, chumbo,
mercúrio, benzeno, enxofre, pesticidas, dioxinas e gás carbônico.
msnozar@yahoo.com.br