sábado, 22 de dezembro de 2012

BRASIL + CHINA (VI)

Logística & Estratégia

Com a mirada fixa no futuro, os governos brasileiro, chileno e boliviano assumiram um compromisso de terminar o chamado corredor inter-oceânico, que ligará os portos de Arica e Iquique, no norte do Chile, ao porto de Santos, em São Paulo, passando pela Bolívia. E com a alternativa de somar um ramal mais ao norte para terminar no porto do Callao, no Peru.

Essa ligação Atlântico-Pacífico passa a ser ainda muito mais importante se também é acrescentado o imenso potencial produtivo do Centro-Oeste Brasileiro, que terá nessa ligação seu “PAC especial”.  Em tempo: o custo de transportar uma tonelada de soja do Mato Grosso do Norte até Paranaguá é praticamente o mesmo daquele do porto brasileiro até um terminal chinês.

A importância logística&estratégica desse novo caminho que sinaliza a ligação terrestre do único grande país das Américas sem costas no Pacífico é acrescentada dos imensos benefícios econômicos e geopolíticos e se insere fortemente na construção do futuro mercado comum Sul-Sul, do qual China é uma defensora de capa e espada.

A nova fronteira
Não pode passar desapercebido que o Plano Decenal de Cooperação Brasil-China 2012-2021 tem um alcance que vai muito além das fronteiras de nosso país o qual, tendo em conta sua importancia e posição geopolitica com relação ao restante da América Latina, passa a ser uma referencia chave na ampliação da influência do  gigante asiático na região, facilitando, inclusive, a celebração de  acordos de cooperação e livre comércio, como os já operacionais com Chile, Peru e Costa Rica. E que, pelas negociações em andamento, serão também realidade com todos os países, o Mercosul inclusive, desde que superadas as divergencias entre Argentina e Brasil.
Nos últimos cinco anos, seguindo ensinamentos do lendário Sun Tzu – e até obedecendo a suas táticas militares aplicadas magistralmente no cenário econômico/empresarial - chama atenção as atividades de quatro caixeiros viajantes, amáveis e sorridentes, que percorreram América Latina e que representavam, até menos de 30 dias atrás, a cúpula do poder da China: o Primeiro Ministro Wen Jiabao; o Presidente, Hu Jintao; o Vice-Presidente, Xi Jimping (novo Primeiro Ministro); e o Ministro das Relações Exteriores, Yang Jiechi.

Embalado numa mensagem clara de cooperação, concretizaram negócios de bilhões, assinaram acordos de assistência técnica, prometeram mais investimentos e comércio, enfim, de todos os modos possíveis, tentaram provar que China é um parceiro “do peito” nos momentos difíceis. E, naturalmente, continuando com incrível força, o processo de substituir a influencia dos EUA nesta parte do mundo, aproveitando, em parte, a fraqueza de seu oponente global - típico Sun Tzu – mergulhado na crise do sistema.

 E não perdem a oportunidade de afirmar que “mantendo taxas elevadas de crescimento, a China vai ajudar a superar a turbulência mundial o que, inclusive, vai permitir ampliar sua cooperação e beneficiar, particularmente, os países latino-americanos”, como já foi visivelmente comprovado nos últimos anos com o aumenta de sua demanda de produtos exportados por América Latina e o volume de seus investimentos e financiamentos na região, gerando incontáveis benefícios e contribuindo para a saúde econômica desta parte do mundo.

Cadeias produtivas

Um mecanismo cada vez mais importante e crucial para aumentar as exportações para a China é somar esforços para integrar cadeias produtivas com o país do dragão que, pela sua gigantesca capacidade de absorção, pode ser uma excelente oportunidade para que empresas brasileiras ganhem uma participação interessante naquele mercado, além daquela tradicional de exportar produtos totalmente industrializados. Parcerias neles!

O presidente o BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento – Luis Alberto Moreno assinalou recentemente: “As empresas latino-americanas às vezes, perdem excelentes oportunidades de negócios porque ignoram a conveniência de fornecer partes, peças e componentes de produtos que, no seu conjunto, a China é imbatível. Mas existe outra realidade: A produção chinesa depende de cadeias produtivas que se estendem por muitos países, especialmente asiáticos. E, sem dúvida, existem grandes espaços para novos fornecedores”.

Para facilitar a participação de empresas regionais em seus negócios com a China, o BID implantará, a partir de 2013, três fundos especiais de financiamento na expectativa de que novas empresas venham a integrar-se nesse processo competitivo.

A secretária executiva da Comissão Econômica para América Latina e Caribe (CEPAL), Alicia Barcena, declarou no Fórum Empresarial China América Latina: “Os empresários da região precisam ser ativos na procura de novas formas de integração de interesses, pesquisando novas oportunidades e inovando na forma de realizar negócios. De nenhum modo podemos aceitar a situação de apenas fornecedores majoritários de matérias primas e importadores de bens industrializados. Um equilíbrio é fundamental para a continuidade e o crescimento das relações comerciais”.

Com relação específica ao Brasil, sem dúvida temos que redesenhar importantes peças de nosso modo de fazer negócios internacionais Será preciso muita inovação, criatividade, pesquisa e vontade para atingir satisfatoriamente esse imenso mercado.

Com a palavra, os empresários/empreendedores!

BRASIL + CHINA V


Um tempo de mudanças
Um dos câmbios fundamentais no campo econômico/político que seguramente veremos consolidar-se nas próximas décadas será o deslocamento do poder decisório tradicional EUA-Europa, batizada eixo do Atlântico, para um novo núcleo do poder mundial que tem na China seu epicentro e se estende pela índia, Japão, Coréia do Sul e dezenas de outros países asiáticos que tem costas no Pacífico, o novo “mare nostrum” do desenvolvimento econômico globalizado e que, num golpe estratégico, inclui os países Latino Americanos, muitos dos quais também beirando o grande oceano, onde o Brasil, o maior de todos, abraça também a promessa de um novo “Eldorado”. Claro, sem esquecer, na antevisão oriental, o potencial desses mercados e suas fontes de matérias primas!
Fantasia? Não, está acontecendo agora, e as estatísticas dos últimos 20 anos refletem os acontecimentos que socavam o poder das potencias tradicionais, hoje mergulhadas na crise que assola o planeta e que acelera sua perda de poder.
Vale um registro: Logo no início da revolução que levou à China à modernidade vitoriosa de nossos dias, Park Chung-hee, então presidente da Coréia do Sul, em 1980, na apertura da Conferencia da ASEAN– Associação das Nações do Sudeste Asiático – antevia uma nova imagem do futuro, afirmando: “O Século XXI será o Século do Pacífico. Desde já as poderosas nações ocidentais podem preparar-se para uma revolução que sacudirá os alicerces da economia mundial e mudará, que sabe para sempre, o equilibro do poder mundial”.
Proféticas palavras! Catapultados pela “nova revolução” da China, iniciada em 1978, e no meio do turbilhão econômico que balizaram as décadas seguintes e que estavam mudando as regras do jogo do poder, passou quase despercebido que o vôo para as alturas do dragão não assinalava apenas uma mudança nos padrões de participação nos fluxos internacionais do comercio, mas, fundamentalmente, a conclusão de todo um processo de aperfeiçoamento de um mercado, no qual o grande país estava lutando – e conseguindo - ocupar o lugar principal.
Laços de seda muito fortes
A assinatura do Plano Decenal de Cooperação Brasil-China 2012-2021 merece incontáveis considerações, tal seu alcance político/econômico/estratégico. Entre suas dimensões podem destacar-se dois pontos: a) A consolidação de um processo de cooperação iniciado, pouco mais de 24 anos atrás anos atrás, com a histórica visita do então presidente Sarney à China, com tudo o que isso significava na época, especialmente do ponto de vista de política internacional e; b) o Brasil nunca assinou com outra nação um tratado tão amplo, abrangendo tantos setores estratégicos e com potencial de movimentação de um volume de recursos tão grande que, sem dúvida, contribuirão também para a gênese do país do futuro ansiado pelos brasileiros: Sustentável, próspero e justo.
Ainda mais: Propiciará um amplo intercambio de informações científicas e será decisivo na formação de profissionais, cientistas e técnicos de nível superior, essenciais para movimentar a nova forma de produzir riqueza que, naturalmente, deverá surgir dessa parceria que beneficiará ambas as nações e deverá inserir-se no desenho de um novo mundo.
O empresário/empreendedor
Agora, de parte do Brasil, existe um ponto absolutamente fundamental para o pleno sucesso do Plano Decenal: A participação ativa do empresariado brasileiro, notadamente daqueles que buscam nos desafios de novos mercados, de novos produtos e de novas situações a realização de seus anseios e o premio de seus esforços.
Na capacidade de inovação, na vontade de superação, na habilidade para vencer dificuldades, na disposição para criar situações favoráveis que facilitem o entendimento com possíveis parceiros do outro lado do mundo, enfim, em tudo o essencial que é rasgo determinante do empresário/empreendedor está a base de para iniciar e consolidar projetos, negócios e parcerias, fazendo realidade as promessas de prosperidade latentes no Plano.
É fácil? Não. Pode ser muito difícil e o caminho, geralmente, está pleno de obstáculos. Mas, me atrevo usar um ditado do Mestre Confúcio: “Aqueles que lutam por ultrapassar os obstáculos no caminho de seus sonhos, por maiores que sejam, receberão sempre recompensas acima de suas melhores expectativas”.


 

BRASIL + CHINA (IV)


Visões
Os descendentes daqueles que ergueram a Grande Muralha – ainda povoada pelos espíritos dos mais de 100.000 operários que perderam a vida durante sua construção – são especialistas em vislumbrar os acontecimentos futuros, notadamente no campo econômico, onde exercem com desenvoltura suas predições apoiadas nas melhores mentes que militam nas suas universidades, mestres em integrar os conhecimentos ocidentais com aqueles cunhados na sabedoria oriental.
Assim, conseguem dimensionar e caracterizar o Brasil das próximas décadas, ainda que isso não seja sempre claro para os próprios brasileiros, amarados a sua cultura imediatista. Isto, transferido para seu grande interesse em nosso país, leva à conclusão lógica que eles mantêm uma expectativa muito, mas muito positiva para o futuro do Brasil. A prova final: Suas demonstrações de amizade, sua busca por uma aproximação cada vez mais estreita, os acordos de cooperação que se multiplicam para cobrir todas as áreas estratégicas e, não menos importante, seus investimentos.
Onde estão as oportunidades
As ações prioritárias do Plano Decenal para o período 2012-2021 estão agrupadas em cinco áreas que, pela sua abrangência, são tanto um verdadeiro roteiro para uma política de desenvolvimento sustentável, como uma matriz de oportunidades crescentes para serem aproveitadas por ambos os países e que revela o interesse em caminhar cada vez mais juntos para enfrentar os desafios dos tempos que virão.
Essas áreas são: 1) Ciência, Tecnologia, Inovação e Cooperação Espacial; 2) Minas, Energia, Infra-instrutora e Transportes; 3)  Investimentos e Cooperação Industrial e Financeira; 4)Cooperação Econômica e Comercial; 5) Cooperação Cultural, Educacional e Intercâmbio entre os povos.
Tudo, estruturado com a clara percepção das características de cada mercado e os princípios de benefício mutuo, desenvolvimento conjunto, viabilidade e eficiência. E claro: Sem perder de vista a necessidade de competir num mundo em constante mutação. 
A cooperação em áreas intensivas de conhecimento é o destaque, sendo de assinalar-se tecnologias em energia renovável e energia limpa; bioenergia; nanotecnologia; biotecnologia aplicada à agricultura, à biomedicina e as ciências da vida; tecnologia agrária e florestal; e tecnologias de informação e comunicação, entre outras.
Outro dos aspectos mais significativos do Plano é o reconhecimento da necessidade de diversificar e aumentar as exportações brasileiras de bens manufaturados, estabelecendo para tal metas ambiciosas: Duplicar seu valor até 2016, com base em 2011, e volver a duplicar esse valor até 2021, com base em 2016. Sintetizando: Multiplicar por quatro os US$ 6,6 bilhões de 2011 para pouco mais de US$ 26 bilhões nos próximos 10 anos. É um desafio que, matematicamente, representa manter uma taxa média de crescimento de nossas vendas de manufaturados à China em 15% ao ano. Perfeitamente possível conhecendo a competência de nossos empresários-empreendedores!
Mais um tema contemplado pelo Plano e que também é da maior importância, enfatiza a necessidade de mais investimentos chineses no Brasil, de preferência na forma de join ventures com empresários brasileiros. Na prática, é bom recordar que isso já conta agora com as arcas cheias do Banco da China no Brasil, que soma o suporte do Banco de Desenvolvimento da China, outro gigante das finanças, cujo pleno funcionamento no país foi recentemente aprovado pelo Banco Central do Brasil.
Vice-versa, investimentos brasileiros em China serão também incentivados, seguindo os passos das quase 60 empresas nativas que já levam a “Marca-Brasil” na terra do dragão e que tem na Embraer seu melhor exemplo. Fato notável é que a empresa, há 12 anos naquele país, domina nada menos que 77% do mercado regional de aviões até 120 passageiros e, complementando, recentemente teve seu jato executivo Galaxy 650 homologado pelas autoridades chinesas deixando abertas as portas para um mercado de 650 aparelhos, demanda estimada até 2022.
Um empurrão final
As oportunidades estão aí, praticamente em todas as áreas de negócios. Não apenas para as gigantes brasileiras, que freqüentam normalmente a lista das 500 maiores, senão que também para as dezenas de milhares de médias empresas que, pelo menos, incluem no seu perfil sua vocação empreendedora, sua vontade de ganhar a batalha dos mercados, sua visão do futuro, sua capacidade de trabalho e sua honestidade.
A corrida promete lances emocionantes!



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BRASIL + CHINA (III)



O grande jogo

Os chineses demonstram ser excelentes jogadores do poker da geopolítica planetária e, de modo especial, nos últimos cinco anos têm trabalhado com celeridade e eficácia para ganhar posições estratégicas no vazio deixado pelos EUA e pela Europa.
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Os grandes conquistadores do Século XIX (Europa) e do Século XX (EUA), imersos na crise do sistema capitalista&liberal e sem forças - recursos- para revidar a forte arremetida chinesa apenas podem ser espectadores impotentes que sabem que estão começando a perder fatias do poder global para um adversário decidido, que luta com admirável competência para ganhar posições estratégicas no xadrez do jogo pela supremacia mundial.

Disso tudo, é bom reafirmar que as muitas correntes de mudança que fluem para dar forma à civilização do futuro não permitem escolher uma causa única ou decisiva para conformar esse mundo cujos contornos estamos começando a vislumbrar. Mas, como nunca antes, fica uma certeza: O Brasil e a China estarão lá, na vanguarda!   
Os acordos marco
Na linha do tempo, desde os acordos de 1993, que sinalizaram o caminho para uma parceria mais intensa, Brasil e China, progressivamente, foram intensificando o seu diálogo e suas relações, sendo ponto de destaque a formalização de uma Aliança Estratégica em 2004, no decorrer de uma visita a Pequim do ex-presidente Lula.
Em 2006 inicia suas atividades a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Coordenação e Cooperação, transformada no principal mecanismo institucional para promover uma colaboração abrangente e profunda de longo prazo. Depois, em abril de 2010, o ex-presidente Lula e o primeiro-ministro Wen Jiabao subscreveram, em Pequim, um Plano de Ação Conjunta, complementado no Rio de Janeiro, em 21 Junho de 2012, pela presidente Dilma Rousseff e o primeiro-ministro Wen, com a assinatura do Plano Decenal de Cooperação Brasil-China, no marco da elevação das relações bilaterais à condição de “Parceria Estratégica Global”.  Atenção com o significado, ao pé da letra!
Tudo, com uma clara postura de tratamento entre iguais e da manifesta compreensão de que tanto a China vai ser enormemente beneficiada dessa nova forma de “globalização entre iguais”, como beneficiados serão também o Brasil e cada um dos países da região, que dão esperançosos as boas vindas ao novo aliado que representa praticamente 20% da população mundial.
Naturalmente, nos bastidores, uma silenciosa torcida cruza os dedos para que não existam “segundas intenções” por trás das amabilidades e dos sorrisos enigmáticos dos altos dirigentes chineses que visitam com freqüência calculada nosso país – assim como outros de América Latina - acenando com parcerias jamais sonhadas no passado de relações com os países ricos.
O grande plano

O Plano Decenal de 2012 pretende consolidar a execução do Plano de Ação Conjunta de 2010 e estabelecer as prioridades e projetos-chave para os dois lados para o período 2012 a 2021.

Esse tipo de planejamento de longo prazo – que goza de inegável prestigio entre os chineses - deixa de ser um projeto do Governo Brasileiro e passa a ser um projeto de Estado, com os incontáveis benefícios que isso significa. Para anotar: Na China, o tempo de abrangência do Plano 2012 coincide praticamente com o período do novo governo de Xi Jinping, que já esteve em Brasil em 2009 assinando diversos acordos.
Essas prioridades estão agrupadas em cinco “seções*, que sintetizam muito bem a visão do caminho a seguir para atender as necessidades de um desenvolvimento sustentável no longo prazo, justificável na medida em que atende os anseios de uma vida melhor para suas respectivas sociedades.
O Plano de 2012 estreita o foco dos principais atores, públicos e privados, de ambos os lados - com ênfase muito especial nos empresário-empreendedores brasileiros - que agora vem mais claramente os benefícios – os mercados – que devem consolidar-se, e/ou ampliar-se, e/ou criar-se e/ou conquistar-se pelo mundo afora. É, sem dúvida, um desafio pleno de oportunidades!
No entanto, será proveitoso refletirmos um momento sobre o sentido de Parceria Estratégica Global que, nas suas entrelinhas, inicia a sofisticada gestação de uma nova área econômica integrada que, com todo seu séquito de valores, suas incongruências e suas pressuposições ocultas, é parte de um plano ainda muito mais ambicioso, longamente acariciado pelos grandes países em desenvolvimento: A criação do Mercado Comum Sur-Sur, que terá como sócios principais Brasil, China e Índia e que, sem equívoco, será palco de uma das grandes revoluções econômicas do Século XXI.
Quando? Os discípulos de Confúcio podem guiar seu parceiro mais afoito pelos caminhos da paciência e da constância. Chegaremos lá, em 2030.. 2040...
*No próximo artigo entraremos nos detalhes desse ponto.