sexta-feira, 28 de setembro de 2012

ADVERTÊNCIAS

 
Al Gore Em seu polêmico documentário, de 2006, Uma verdade Inconveniente, o vice-presidente do governo de Bill Clinton (1993-2001), Albert Arnold Gore, político, escritor e ativista ambiental, alertava para os danos causados ao planeta pelo aquecimento do clima e clamava por uma maior atenção dos governos para adoção de medidas urgentes para corrigir essa situação. Mas, pouco ou nada foi feito desde então, ainda que o autor tivesse credenciais para ser ouvido: Oscar do Melhor Documentário e Premio Nobel da Paz em 2007; candidato à presidência dos EEUU em 2000, derrotado graças ao arranjo mafioso de Miami ainda que tivesse recebido a maioria dos votos populares, naquilo que foi outra demonstração gritante no rosário de falcatruas que marcam negativamente a política dos EUA.
Uma verdade Inconveniente passou a ser a primeira mostra documentada deste Século de que algo anda muito mal e que são necessárias medidas urgentes e globais para deter essa ameaça que coloca em risco a sobrevivência de nossa civilização nos tempos que virão.
Uma pedra no caminho Outra verdade não dita, sem dúvida inconveniente, é que uma mudança no modo de produzir riqueza dos modelos que governam a economia do planeta – seja liberal&capitalista, seja socialista – pode ocasionar mudanças radicais na geografia do poder, prejudicando sensivelmente o predomínio das nações mais poderosas-leia-se EE. UU, China, Japão, Alemanha, França, Reino Unido,  Rússia e outros países industrializados – que albergam os maiores interesses e os maiores benefícios para “deixar tudo como está” ou, na melhor das hipóteses, fazer que o inevitável processo de transformação seja o mais lento possível.
Assim, com a ajuda indispensável da cortina de fumaça da promoção do consumismo, se ganha o tempo necessário para criar e consolidar os sistemas, os produtos, os monopólios e os mercados, assim como registrar as patentes e as e aperfeiçoar as organizações imprescindíveis para manter o sistema de produzir riquezas - que já emplaca os 300 anos - sob controle de seus atuais donos.
A luta é contra o tempo. Falta saber se o paciente – a Terra – suportará o custo dessa demora, delineada para fazer ainda mais ricas e poderosas as 500 maiores organizações do mundo, verdadeiro detentoras do poder globalizado do planeta.
Avisos Entretanto, o gelo marinho do Ártico atingiu sua menor extensão, estabelecendo um novo recorde negativo de cobertura durante o verão (no hemisfério norte) desde que dados de satélite começaram a ser coletados em 1979. A extensão em 2012 caiu para 3,41 milhões de km² - 50% menor que a média entre 1979 e 2000!
tempo que o gelo Ártico é considerado um indicador das mudanças climáticas. Cientistas que vem analisando o surpreendente degelo acreditam que ele é parte de uma mudança fundamental. Mark Serreze, diretor do Centro Nacional de Neve e Gelo (NSIDC) dos EE. UU , avisa: "Nós estamos agora em território desconhecido. Ao mesmo tempo em que já sabíamos que, à medida que o planeta se aquece, mudanças serão vistas primeiro e mais pronunciadamente no Ártico, poucos entre nós estavam preparados para a rapidez com  que essas mudanças iriam ocorrer .Isso tem impacto no clima do hemisfério norte, podendo resultar em condições extremas, como secas, ondas da calor e enchentes”.
A esse panorama preocupante podemos acrescentar os dados do Instituto Nacional Ciências Geofísicas da China, que vem monitorando a espessura da camada de gelo do Himalaia desde 1970, onde verificou que essa cobertura sofreu um decréscimo de quase 30% nos últimos 25 anos. Bem, não podemos esquecer que para eles, o degelo do Himalaia é origem de pouco mais de 70% das águas dos principais rios chineses – Yangtze e Amarelo – que irrigam a produção de grande parte das culturas que alimentam os 1.345 milhões de habitantes do Dragão Asiático. Lá também, literalmente, água é vida!
Recordar E nunca está demais – vide nosso blog de 4/06/12 – repetir e insistir na necessidade de implantar os princípios preconizados pela ONU para iniciar uma mudança no modelo de produzir riqueza no planeta com base na Economia Verde, que é “aquela que resulta na melhoria do bem-estar humano e da igualdade social ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológica. Sustenta-se sobre três pilares: é pouco intensiva em carbono; é eficiente no uso dos recursos naturais; é socialmente inclusiva”.












 





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sábado, 22 de setembro de 2012

FIOS DA MEADA

OCCUPY WALL STREET Um ano atrás, mais precisamente em 17/09/2011, aconteceu um fato inimaginável que estremeceu Wall Street, a rua-símbolo do “sistema liberal&capitalista”, quando milhares de manifestantes, num movimento espontâneo, ocuparam a famosa rua para protestar contra as injustiças do modelo econômico&financeiro, aos gritos de “o dia inteiro, a semana inteira, fechar Wall Street”.  All day, all week, shut down Wall Street!
O movimento, que se estendeu pelas principais cidades dos EE. UU e da Europa, foi apenas um clamor a mais nascido das incongruências do sistema de produzir e distribuir riqueza no mundo globalizado, onde poucos, continuamente, acumulam a maior parte dos benefícios de esse estado das coisas.
Na verdade, direta ou indiretamente, consciente ou inconscientemente, a imensa maioria das pessoas paga um pesado tributo da subserviência inevitável ao “sistema”, espremidas nas engrenagens de um modelo que mal entendem, mas que marca presença nas suas vidas desde o momento de seu nascimento. Alias, melhor, desde antes.
Ainda assim, para efeitos práticos, não foi mais que outro clamor que o vento levou e que, quem sabe no futuro, ajude a tentar mudar o rumo da forma de distribuir a riqueza da humanidade.
DESPERDICIO O diretor-geral do Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva, em discurso na Universidade de Lisboa, reprovou a crença no princípio de que quem não trabalha não come, regra que vem da antiguidade romana e que, ainda hoje, para milhões de infelizes pelo mundo afora, é a dura realidade do dia-a-dia.
Agora, pasmem: Relatório da FAO informa que o desperdício de alimentos entre a produção e o consumo representa cerca de 1,3 bilhões de toneladas por ano no mundo, o equivalente a um terço de a produção alimentar para o consumo humano!
O estudo da FAO coloca o dedo na ferida quando assinala que o desperdício na mesa dos que estão em países de renda elevada - Europa e Estados Unidos são exemplo – somado à melhoria nos métodos de produção, armazenagem e transporte, seria suficiente para alimentar os 7, 050 bilhões de habitantes do planeta, sem que quase um 20% passem fome.
Graziano, lembrando o sucesso do Brasil nesse quesito, que é uma das metas do Milênio das Nações Unidas a serem cumpridas até 2015, insistiu: ”É possível, sim, erradicar a fome. Para isso, é preciso ter esse objetivo como prioridade política e ter a vontade de fazer”.
CARROSSEL A fome não deveria existir. A ninguém interessa – suas vítimas, sociedade, governos, detentores do poder econômico, empresas, etc. – pôr o descoberto essa prova gritante da falha do sistema econômico, seja qual seja aquele vigente sob a tutela do poder político de plantão.
O Dr. Amartya Sen, famoso economista hindu, estudioso dos problemas da fome – seu livro Pobreza e Fome é um clássico imperdível - sobre a economia da índia, país que tem uma trajetória milenar de luta contra esse flagelo, insiste em lembrar uma simples equação para resumir o impacto econômico e social dessa ocorrência, deixando de lado, por um momento, aspectos humanitários e fazendo abstração à dor e ao sofrimento: “A pessoa com fome não produz, mal sobrevive, é um paria social e um fardo econômico que tem que ser carregado pelo resto da sociedade. É, em soma, um freio ao desenvolvimento natural das coisas Por outra parte, a pessoa alimentada, sem fome, é um agente econômico fundamental, produz riqueza, depende de seu próprio esforço para sobreviver e sustentar sua família. È um elo essencial na engrenagem que move o progresso da nação”.

Como isso é verdade, é de estranhar que muitos governos – e seus políticos – não dediquem mais esforço e recursos para erradicar esse açoite que castiga impiedosamente uma parte dos habitantes da Terra.
CLIMA A pior seca nos EE. UU. nos últimos 56 anos e colheitas abaixo do normal na zona produtora do Mar Negro – Ucrânia, Rússia - estão afetando severamente os preços dos cereais, notadamente soja e milho, básicos na alimentação animal, fazendo acender a luz amarela nos organismos internacionais frente ao perigo de uma alta severa nas cotações  dos alimentos -  como a de 2007/2008, a mais recente - que afetou seriamente sua distribuição nas regiões mais necessitadas do mundo.
A Oxfam International, uma das ONGs líderes a nível planetário no combate à pobreza e a fome, adverte “sua seria preocupação frente a uma possível escassez e elevação do preço dos alimentos a nível mundial, lembrando que a crise de 2008 aumentou o numero de afligidos por fome crônica em 75 até 160 milhões de pessoas”.
O Índice de Preços dos Alimentos compilado pela FAO, que mede a evolução mensal de preços de uma cesta básica de cereais, oleaginosas, lácteos, carne e açúcar, atingiu um índice de 213 em Agosto/2012, ainda abaixo dos 238 alcançados no pico em Fevereiro/2011, quando a elevação dos preços ajudou a pôr lenha na fogueira da Primavera Árabe e avivou revolta em muitos países.
(Para não esquecer: Nos bastidores, as corretoras e multinacionais que mantêm posições em commodities agrícolas, cruzam os dedos sorridentes. Ao final das contas, o biênio 2012/2013 pode ser bem melhor do esperado!).







quinta-feira, 6 de setembro de 2012

GLOBALIZAÇÃO & CRISE


A globalização não tem pai nem mãe, não tem profetas nem fundadores, muito menos objetivos, compromissos ou responsáveis. Simplesmente aconteceu em algum momento esquecido nos primórdios da humanidade quando os homens, na luta pela sobrevivência, buscavam pela violência ou pelo convencimento, partilhar os bens que as circunstancias e a natureza colocava a seu alcance.
Como não tem regras nem códigos para obedecer é livre para fazer o bem ou criar o mal, favorecer uns ou prejudicar outros, impulsionar ondas destruidoras – vide “crise” atual – ou permitir que o mundo desfrute da bonança do crescimento, como já aconteceu tantas vezes.
Como entidade supranacional, que paira como um deus onipotente sobre todo o globo exerce um poder indiscutível sobre todas as coisas que envolvem as relações econômicas e financeiras entre as nações. E tem nas empresas multinacionais suas fortalezas espalhadas por todo o mundo cumprindo seu papel de acumular riquezas e poder, assim como de minar a autoridade dos governos.
É bem verdade que através dos séculos, na sombra de toda teoria econômica arquitetada pelo homem, esse fenômeno foi se fortalecendo e ganhando espaço num planeta cansado de tanta exploração e desatinos. Isso, até chegar ao ápice nas últimas décadas, quando os interesses dos que tudo podem encontraram o aliado ideal no casamento da tecnologia com os mercados. Bem, assim a folia que festeja essa união pode continuar através dos tempos, proporcionando sempre novas energias aos felizes parceiros.
Esses três paradigmas – interesses, tecnologia e mercados - têm como padrinhos de honra o egoísmo, a cobiça e um materialismo desenfreado que não conhece limites na sua volúpia de mais, sempre mais.

Esse é o lado obscuro da globalização, em luta permanente com sua face radiante, que busca a paz, a qualidade de vida, o desenvolvimento sustentável e a justa distribuição da riqueza universal. Que ainda é, para muitos, um sonho possível no caos de uma civilização que tropeça continuamente na sua jornada para um mundo melhor. 

De qualquer modo, a “crise globalizada” de nossos dias não deixa esquecer que todos dependemos de todos. E que tudo começou porque dezenas de políticos deixaram de lado os ditames da boa governança e tiveram nos banqueiros, sempre na caça de lucros crescentes, os aliados indispensáveis para ignorar os conselhos de prudência dos mais cautos. Naturalmente, para completar o circulo da felicidade, contaram com a colaboração de centenas de milhões de consumidores afoitos, daqueles que gastam mais do que podem.

E tudo isso somado à carência de ética e a falta de regras adequadas por parte das autoridades monetárias, sempre a postos para participar do grande cassino planetário.

Nota de rodapé para seu caderninho preto: As 1.000 maiores empresas do mundo são as verdadeiras detentoras do poder globalizante. E sempre, depois de cada “crise”, ficam muito mais fortes e poderosas.
        Enfim, assim caminha a humanidade.