segunda-feira, 19 de novembro de 2012

BRASIL+CHINA (II)


Para lembrar
Ainda que pouco mencionado, importante é lembrar que, com relação ao Brasil, a China não guarda nenhuma lembrança negativa do passado que pode ter permanecido no subconsciente coletivo como, pelo contrário, é o caso com as potencias colonialistas da Europa assim como com os EUA, o Japão, a Rússia e a Índia. Com o Brasil, os sentimentos ou não existem - por desconhecimento - ou são positivos e, sem exagerar, em muitos casos, muito positivos.
Outro fator de aproximação que tampouco pode ser ignorado e que tem seu peso no saber convencional chinês, moldado a cultuar o passado, é o fato de que, em certos aspectos, ambos os países participaram de uma história comum de luta por livrar-se das garras do colonialismo e da dependência de decisões tomadas, sem sua participação, nos concílios das grandes potências, normalmente atentando contra seus interesses.
Tudo isso, se outra coisa não faz, ajuda a criar uma predisposição favorável que facilita contactos, cooperação e negócios.
A fronteira final
No campo da tecnologia de ponta corresponde assinalar o sucesso da parceria Brasil-China na área espacial, onde se sucedem êxitos que consolidam a continuidade das ações para uso do espaço para fins pacíficos.
 Apenas para dar um marco inicial ao caminho percorrido, vale lembrar que foi o ex-presidente Sarney que ,em junho de 1988, na sua viagem oficial à terra do dragão - então em plena efervescência com a implantação das reformas de Deng Xiaoping – quem assinou, em nome do Brasil, o primeiro tratado de cooperação no campo espacial, num gesto que, para muitos, era apenas protocolar. Mas, não foi assim: A árvore cresceu e no pára de dar frutos!
Senão outro esse foi o ponto de partida do CBERS (Programa China-Brasil de Satélites de Recursos Terrestres), que já colocou em órbita dois equipamentos que, compartilhados permitem monitorar recursos terrestres e administrar melhor o uso do solo. E que em breve deverão ser seguidos do CBERS-3 , em janeiro de 2013, e do CBERS-4, em 2014, que serão intensamente usados no controle ambiental. Outros satélites estão sendo previstos para uso em meteorologia, em comunicações e na vigilância aérea.
Entre os inúmeros méritos desse acordo que permitiu o Brasil entrar no seleto grupo de países que usam recursos próprios de alta tecnologia para controlar seu território e seu espaço, deve enfatizar-se que foi o primeiro convênio celebrado entre países em desenvolvimento para o uso de técnicas avançadas para a construção e operação conjunta de satélites.
Em tempo: Poucos dias atrás o Brasil enviou à China a segunda câmara de alta resolução (MUX-FM2) sofisticado equipamento projetado e fabricado no Brasil para equipar o CBERS-4. È de assinalar que apenas sete países - China, EUA, França, Índia, Israel, Japão e Rússia -. possuem recursos tecnológicos para fabricar esse tipo de câmara, capaz de identificar objetos de 20 metros desde 750 km. de altura.

Um mercado a conquistar
Para instalarem-se no Brasil as empresas chinesas precisam enfrentar dificuldades extra-mercado, como o choque cultural, o idioma, a complexidade do sistema tributário e regulatório brasileiros, a burocracia pesada e a ineficiência estatal, entre outros, para pôr a prova dois componentes da cultura empresarial chinesa: Paciência e persistência.
Então, olhando com atenção e projetando o mercado brasileiro para as próximas décadas, assim como sua posição estratégica com relação aos mercados da América Latina - que cada ano que passa também estreitam mais seus vínculos com China – as empresas da terra do dragão desembarcam no chão descoberto por Cabral para ocupar posições e ser também vencedores nas batalhas dos mercados.
Chery e JAC, automóveis e similares; China South Group, complexos industriais; Hailer, eletrodomésticos; Lenovo, computadores; Sinopec, petróleo e gás; Sinotruk, caminhões; ZTE, telecomunicações, para citar apenas algumas das dezenas de empresas chinesas que marcam presença e que sabem que não podem perder as oportunidades oferecidas pela 6ª. maior economia do mundo.
E mais: Contam com o apóio do Banco da China, instalado em S.Paulo, que acena com sua carteira de 100 bilhões de dólares para financiar investimentos no Brasil. Que, não duvidem, se preciso, pode ser acrescido de recursos de longo prazo de nosso BNDES.
Aliás, seguem o caminho dos japoneses nos anos de 1960 e dos coreanos, nos anos de 1980.








-



segunda-feira, 12 de novembro de 2012

BRASIL + CHINA (I)


Nos últimos 30 anos a China experimentou uma transformação dramática e substancial na medida em que passava de uma economia centralizada, que obedecia rigidamente os princípios do comunismo ortodoxo, para um novo regime econômico, que eles denominam “socialismo com características chinesas” ou, para muitos, “socialismo de mercado”.

O resultado: A transformação da China, de um país conhecido por abrigar o maior número de famintos do planeta nos anos 70, na segunda maior economia do mundo, a caminho de ser a primeira antes de finalizar a segunda década do Século XXI, segundo as projeções da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).

 Uma aliança estratégica

Nesse meio tempo, entre as turbulências das mudanças de tempos plenos de efervescência, começa plasmar-se uma nova e promissora aliança estratégica entre o Brasil e a China.  Na verdade, ninguém seria capaz de predizer, tamanhas as diferenças políticas, econômicas e culturais, agravados pelo desconhecimento mútuo e a grande distância, que duas nações emergentes que, em muitas áreas podem até serem consideradas concorrentes, poderiam chegar a um nível tão intenso de entendimento e cooperação, consolidados nas coincidências de opiniões nos fóruns internacionais, no volume da corrente do comércio, nos investimentos diretos de capital produtivo, nos financiamentos de projetos de infra-estrutura e nas dezenas de acordos de cooperação e de intercambio que avançam e dão sustentabilidade as relações entre o gigante da América Latina e o dragão de Ásia. Claro, a China investe e financia muitíssimo mais no Brasil que vice-versa.

Um novo mercado

O que passou quase despercebido nos últimos 20 anos - de maneira especial, a partir do início do Século XXI - foi a rápida aproximação entre o Brasil e a China, especialmente nos campos econômico e tecnológico. Isso, de modo contínuo, sólido e seguro têm sentado as bases para uma colaboração e um intercâmbio cada vez mais intenso em setores que marcarão a pauta do desenvolvimento sustentável no futuro, como são os de biotecnologia, energias renováveis, tecnologias avançadas para produção de alimentos, nanotecnologia, novos materiais, tecnologias da informação, cibernética, tecnologia social, medicina, uso do espaço, eletrônica avançada, sistemas adiantados de gestão, assim como em outros setores intensivos em conhecimento que devem ser os dinamizadores que ampliarão e modernizarão os horizontes de nossa civilização nos tempos que virão. 

E que serão (são) a matriz do conhecimento planetário e os melhores geradores de empregos de alta qualificação.

Um salto fantástico

Em abril de 1979 a China ultrapassou os EUA como o principal destino das exportações brasileiras, desalojando para o segundo lugar nosso tradicional comprador, os EUA, e assim deixando Argentina na terceira posição e, em 2012, a China passa também a ser nosso principal fornecedor de produtos importados, outra vez suplantando os EUA
 Em 2011 o comércio bilateral atingiu 77,7 bilhões de dólares, deixando um superávit para Brasil de quase 12 bilhões de dólares – o mais alto já registrado com um país - que corresponde a 38% do saldo positivo brasileiro.

 E, apesar da crise globalizada, que também afeta o comércio entre os dois países, 2012 deve fechar com um valor muito próximo de intercambio àquele recorde de 20011 sendo o destaque um aumento superior a 20% na venda de produtos industrializados brasileiros.

Além de algumas commodities chaves, com destaque para o minério de ferro, a soja e seus derivados, o petróleo, os subprodutos da madeira e o açúcar, exportados regularmente, o Brasil tem um mercado colossal a ser conquistadas para bens de alto valor agregado nas áreas de moda, de carnes e de alimentos produzidos com matérias primas locais, aos quais tranquilamente podemos acrescentar milhares de produtos que a ousadia e a coragem dos empreendedores brasileiros irão descobrindo na medida em que se disponham a enfrentar o desafio de vender no mercado chinês. Em tempo: China já e o principal comprador de vinhos brasileiros. E a nossa apreciadíssima cachaça?

É bom anotar na agenda de negócios: Em poucos anos, possivelmente até 2015/2016, a China deve ser o principal mercado consumidor do mundo, suplantando os EUA, com uma classe media de umas 400 milhões de potenciais clientes, 4 vezes mais que seus homônimos no Brasil, onde “elas” têm uma preferência obsessiva por produtos importados. E onde o “Made in Brazil” já goza de um merecido prestigio, dando suporte a essa oportunidade fabulosa!

terça-feira, 6 de novembro de 2012

ERGUER AS BARRICADAS



Quando a economia mundial afunda ou apenas mostra sinais de uma possível recessão ou cresce abaixo das expectativas, os mercados estremecem e buscam proteção para manter suas fatias nos negócios, “duela a quién duela”, parafraseando o ex-presidente Collor.

Para todos os participantes no comércio internacional – exportadores, importadores, terminais de cargas, bancos, seguradoras, empresas de transporte, empresas de serviços logísticos, operadores, fabricantes de equipamentos, prestadores de serviços, etc. - isso liga uma luz vermelha anunciando tempos difíceis acarretados pela redução de atividades, com as conhecidas sequelas clássicas no arrefecimento dos negócios.

Ponderando friamente a questão, nada mais justo que proteger empregos, capitais, soberania, tecnologia e o orgulho do “feito em casa”. Se elevar a proteção do mercado interno é a solução para solucionar problemas cruciais, nada a dizer.  Mas, o remédio tem que ser cuidadosamente dosado, não pode habituar o paciente e deve ter duração limitada. Porque, caso contrário, o doente (a economia) vai ter seu sofrimento mantido por muito, muito tempo.
Ou, em outras palavras: O comércio internacional é um via de duas mãos. O que significa, no final da história, que os benefícios obtidos pelas restrições às importações são anulados pelos problemas ocasionados no setor exportador, o que, como efeito colateral, aflige a capacidade de desenvolvimento sustentável do país. E, convenhamos, isso é muito, mas muito grave!

O protecionismo

A OMC (Organização Mundial do Comércio), que tem como uma de suas bandeiras um comércio mundial livre e justo, estima que até final de 2012 as barreiras (barricadas!) ao comércio, impostas desde a crise de 2008, já afetam, de forma direta uns 500 bilhões de dólares de negócios internacionais (duas vezes as exportações do Brasil em 2011), prejudicando 4% do comércio mundial. Para 2013, esse número salta para 6%!

Nos encontros dos G20 * (as 20 maiores economias do mundo) as recomendações e as expressões de boa vontade registram um superávit extraordinário no sentido de não criar empecilhos para o livre fluxo do comércio entre seus membros.  E não é para menos: Esses países são responsáveis por mais de 90% dos negócios internacionais mas, na contramão, tem no seu débito mais de 95% das medidas protecionistas diretas aplicadas nos últimos cinco anos. O Brasil, no meio!

Os mais destacados especialistas de assuntos internacionais são unânimes em alertar sobre os perigos da adoção impensada de medidas protecionistas para salvaguarda dos mercados internos o que, geralmente, dão origem a represálias país-país. E ainda mais: Tem a aziaga peculiaridade de estender-se para outras nações, deixando na sua trilha um atraso no ritmo de desenvolvimento econômico, com o resultado dos prejuízos irreparáveis que isso provoca.

Bem, é só lembrar que o ritmo de evolução do comercio internacional é uma das locomotivas que puxa o desenvolvimento globalizado. E no presente ano de 2012 aponta para um crescimento mundial de apenas 2,5%, que é, aproximadamente, a metade daquilo que seria tecnicamente recomendável esperar para a manutenção de um incremento sustentável.

Advertências unânimes

Em documento preparado especialmente para o G20, prévio à reunião da entidade na primeira semana de novembro/2012, em México, assinado pela OMC (Organização Mundial do Comércio), a UNCTAD (Conferencia das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), as três organizações líderes na promoção do comércio e do desenvolvimento exortaram aos governos para realizar os maiores esforços para resistir o protecionismo e, ao mesmo tempo pediram mais investimentos para gerar empregos e obter uma recuperação econômica global e sustentável.

Como bem enfatizou o secretário geral da OCDE, José Angel Gurría na apresentação do documento: “A tentação do protecionismo é tão forte como sempre com a crise que segue minando nossas economias” E prosseguiu: ”Agora mais do que nunca os governos s devem honrar seus compromissos de manter os fluxos de comercio e investimentos abertos e transparentes".

Por conseguinte, o que se pretende é limpar o caminho para a manutenção de um desenvolvimento sustentável e suficiente para ajudar a criar os 600 milhões de empregos adicionais que o Banco Mundial estima necessários até 2020 para evitar uma crise crônica no sistema econômico global.

*G20: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coréia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia e Países Membros da UE (Esses últimos tem uma única representação).