quinta-feira, 25 de março de 2010

GUERRA & PAZ

Em 1776, no clássico “Riqueza das Nações”, Adam Smith pontificava sobre o fim dos conflitos entre nações que, na sua visão, seriam empurrados para um canto esquecido “por exércitos de empresários que atravessariam as fronteiras com o único objetivo de negociar e potencializar suas vantagens comparativas”. Mundo ideal, que descortinava um cenário internacional unido pelo comércio e que, de certo modo, antecipava alguns dos aspectos positivos do processo de globalização que se solidificaria mais de duzentos anos mais tarde.

Em 2009, levadas pelo turbilhão da crise do sistema liberal-capitalista, as exportações mundiais declinaram pouco mais de 12% com relação ao ano anterior, enquanto que o Brasil emplacava amargos 24%%, um tropeção acre na sua corrida para ganhar os mercados mundiais. Mas, o que mais chama atenção é que, revertendo um quadro histórico - as trocas além fronteiras normalmente crescem com uma velocidade sempre superior à taxa de evolução do PIB - foi o comércio internacional que cooperou para empurrar para as trevas o crescimento da economia planetária, que teve uma queda média inferior à 3%. Bem, de qualquer modo, parece que o paciente iniciou, entre trancos e barrancos, o processo de recuperação.

É importante lembrar que, nos tempos tumultuados de nosso caminho para o futuro, tanto a ONU como a OMC insistem na importância do intercâmbio comercial como instrumento decisivo para a manutenção da convivência pacífica entre os povos e o fortalecimento dos caminhos para o crescimento sustentável, pelo menos do ponto de vista econômico. Confirmando isso, recente estudo das Nações Unidas demostra uma correlação direta entre comércio, desenvolvimento e paz, onde se verifica que quando existem laços comerciais fortes, as controvérsias são suavizadas pelo predomínio de interesses comuns e os índices de desenvolvimento não param de subir.

Vale enfatizar que, nos últimos anos e confirmando essa visão, um dos aspectos mais destacados no crescimento do comércio mundial foi o fulminante aumento da participação internacional dos países asiáticos - liderados por China, India, Malasia, Singapura, etc - numa das regiões potencialmente mais conflituosas do globo. Onde, sem dúvida, o caminho da harmonia foi azeitado pelo comércio e seus efeitos positivos.

Como lição de casa, não pode passar despercibido que esses países têm em comum, pelo menos, um aspecto: utilizam eficientemente todas as armas do arsenal do marketing internacional, de modo contínuo e criativo. E, muito importante, têm estrategias eficientes para integrar a expansão de seu comércio além fronteiras com o desenvolvimento econômico intra fronteiras.

Aliados decisivos dos asiáticos nessa evolução explosiva na conquista dos mercados planetários tem sido o desempenho bem-sucedido de mais de 180 Trade Centers, implantados nas mais importantes cidades do mundo, os quais operam como centros especializados de negócios, com espaços adequados para exposição permanente de produtos em esquemas rotativos, além da missão de executar outras ações de marketing, tais como vendas; promoção; lançamentos de produtos; participação de eventos; publicidade; pesquisa de compradores, de concorrentes, de tendências, de potencial de mercado, de preferenciais, de preços, etc. Enfim, todas armas possantes para ganhar a guerra dos mercados.

O Governo Brasileiro recém nos últimos anos acordou para a importância do papel do estado na promoção das vendas internacionais, somando uma atuação fundamental no apóio às empresas, especialmente às P&M.

E dando os primeiros e decisivos passos com a implantação de centros de negócios brasileiros em Miami, Dubai, Varsovia, Havana, Beijing e Moscou.

terça-feira, 16 de março de 2010

GUERRA COMERCIAL

No comércio internacional é preciso entender que são os interesses que regulam as relações entre as nações, num esquema de “tomalá-dacá”. E ponto final, a despeito de toda a retórica gasta por diplomatas, políticos, governantes e negociadores.

Tendo esse princípio em mente, nada de espantar se quando, por um motivo ou outro, esses interesses são contrariados e forçam o país que se julga prejudicado a blindar seu próprio quintal, erguendo o escudo dos mecanismos de proteção de seu mercado interno para evitar ou dificultar a entrada de produtos e serviços do exterior.

Em geral, essas ameaças – as mais conhecidas se encondem trás a fachada de subsídios, dumping, tarifas compensátorias, entraves burocráticos, exigências especiais - – atentam em contra o desenvolvimento normal do mercado e, com maior ou menor intensidade, podem significar uma série de contratempos que se enlaçam numa espiral maléfica na forma de um revés para a manutenção de empregos, com potencial para reduzir o crescimento setorial e regional e levar à perda de competitividade – interna e externamente – assim como o retrocesso tecnológico, de consequências sempre danosas no longo prazo. Isso, para dizer o menos.

Ainda que autênticos– porque consequência de um fato econômico solidamente comprovado - ou ilegí-timos-porque escondem ineficiências e trazem prejuizos muito maiores que o mal que se pretende remediar - esses mecanismos de proteção não deixam de causar algum tipo de prejuizo no “outro lado” e até, muitas vezes, no país que ergue seu escudo protetor. Por outra parte nem sempre é possível distinguir os benefícios reais para os consumidores, pelo menos no curto e médio prazo.

Essas barreiras defensivas, de uma forma ou outra, deterioram o bom relacionamento entre os países, como é o caso do contencioso do Brasil com os EUA, a China e a Argentina, para citar apenas os três maiores sócios de nossas relações comerciais, que representam quase 30% de nosso intercambio com o exterior e com os quais os conflitos são mais visíveis e com maior potencial de risco para o bom andamento de nosso comércio além fronteiras.

Formalmente aprovadas pela Organização Mundial do Comércio, após mais de sete anos de infrutíferas negociações, as represálias brasileiras no caso dos subsídios ao algodão nos EUA é o episódio mais gritante de desentendimentos entre duas nações amigas. O que lembra a famosa frase: “Amigos sim, mas negócios aparte”.

È claro que o Brasil precisa e deve proteger seus interesses. Mas é uma pena que isso aconteça na forma de represálias – sob quaisquer modalidades - desde que não foram possíveis soluções de consenso. E assim sendo, ao enveredar para a luta na proteção de seus interesses, a desforra do outro lado é quase inevitável.

O que até justifica as manchetes da imprensa econômica internacional que, ávida como sempre de pôr lenha na fogueira, proclama que o Brasil está iniciando uma guerra comercial. Claro que não, como provam as demoradas e pacientes tentativas dos Ministérios de Relaçoes Exteriores e da Indústria e Desenvolvimento para tentar acordos que atendam os interesses das partes.

Mas, não devem duvidar: Os EUA não podem aceitar passivamente as represálias do Brasil. Pelos antecedentes do país do Norte, alguma reação é até lógica e, sem dúvida, virá. Até nem que mais não seja para livrar a cara do Governo Americano e ajudar a digerir esse novo prato “a la brasilera”. Pelo menos uma coisa é certa: A estas horas, muitos altos membros da burocracia estatal estadounidense devem estar lembrando, com evidente nostalgia, daqueles “bons tempos” nas primeiras décadas do Século XX quando os EUA mandavam e desmandavam por estas bandas da América Latina. E aproveitam para invocar a imagem forte e arrogante de Theodore Roosevelt (1858-1919) e seu não menos famoso “Big Stick”.

Para alegria dos falcões, os tambores de guerra estão sendo preparados para animar os adversários.