terça-feira, 30 de junho de 2009

A GRANDE REVIRAVOLTA


Não duvidem, uma das mudanças fundamentais que presenciaremos na próxima década será a perda progressiva do poder e da autoridade dos EUA nesta parte do mundo, onde o “Grande Irmão do Norte” mantinha uma influência inquestionável desde o início do século passado, fiel à política de segurar um porrete (big stick) numa das mãos e um punhado de dólares na outra. Na soma, anos tristes para Latino América, semeados de corrupção e ditaduras, que abriam as trilhas tortuosas para a livre passagem da rapina predatória dos recursos naturais do continente, embalados no trabalho ignóbil e na perda de esperança das populações nativas.

Mas (quase) tudo isso faz parte do passado. Hoje, América Latina, com governos e povos que não se curvam submissos aos ventos mutantes do Norte está, como nunca antes, aberta a novas propostas de cooperação internacional em termos totalmente diferentes daqueles marcados pelo ranço colonialista dos séculos findos.

Na brecha deixada pelo enfraquecimento do poder dos EUA - possivelmente a maior vítima do caos que marca o começo do fim do “sistema capitalista&liberal”, do qual, paradoxalmente, é seu máximo expoente - surge uma nova força, a China, vinda das distantes terras asiáticas e, sob o símbolo lendário do dragão, oferece mercado, financiamentos, tecnologia, acordos de cooperação técnica, comércio, intercâmbio científico- educacional, participação em projetos de desenvolvimento, investimentos de risco, e assim por diante.

Tudo, com uma clara postura de tratamento entre iguais e da manifesta compreensão de que tanto a China vai ser enormemente beneficiada dessa nova forma de “globalização entre iguais”, como beneficiados serão também cada um dos países da região, que dão esperançosos as boas vindas ao novo parceiro que representa vinte por cento da população do planeta.

Naturalmente, nos bastidores, uma silenciosa torcida cruza os dedos para que não existam “segundas intenções” por trás das amabilidades e dos sorrisos enigmáticos dos altos dirigentes chineses que visitam com freqüência calculada a região e, sem muita demora, iniciam a costura sofisticada daquilo que poderá ser a maior revolução econômica dos Século XXI: um Mercado Comum Sul-Sul, com a participação de América do Sul, África, Índia e China como sócios principais.

Essa revolução na arquitetura da economia mundial poderá levar décadas. Mas, não esqueçam: a medida do tempo dos construtores da Grande Muralha e do Canal Jing-Han, é totalmente diferente da nossa. Planejadores meticulosos, obsessivos com relação aos resultados, emolduram seus projetos mais importantes com prodigiosa abundancia de paciência e persistência, seguindo preceitos capitais do Grande Mestre Confúcio.


IMAGEM: Templo de Confúcio em Shangai

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O INIMIGO INVÍSIVEL

Resulta por demais evidente que nos encontramos numa época sem precedentes nos tempos modernos, demarcada por uma conjugação de tendências conflitantes que, tudo parece assim indicar, devem ser os primeiros sinais de uma mudança profunda no relacionamento entre as os povos, as pessoas e as nações e, destes, com o Planeta Terra.

Na medida que avança a percepção de que o sistema capitalismo&liberalismo&mercado não vai conseguir manter seu predomínio sobre as gerações futuras, surgem as novas fórmulas de substituição do velho pelo novo, agora sim com o pressuposto de estarem muito mais próximas dos verdadeiros anseios da maioria dos seres humanos.

Apenas uns poucos símbolos visíveis dessa mudança planetária podem ser observados, por exemplo, na troca da meta de desenvolvimento a qualquer custo por desenvolvimento sustentável; no incrível avanço da ciência, das tecnologias da informação e do conhecimento, como matéria prima para a democratização do progresso; na ascensão à presidência de um ex-operário no Brasil, de um indígena na Bolívia e de um negro nos EUA; na importância da China como poder mundial; na compreensão das lideranças políticas, de todo o planeta, da necessidade de trabalhar juntos para solucionar problemas globalizados; na preocupação real, crescente e prioritária pela preservação e recuperação ambiental; no aparecimento de um novo tipo de consumidor, mais consciente, informado e exigente: e por aí afora, os signos que prenunciam o começo de uma nova ordem mundial começam a surgir em todos os cantos, sempre em luta infindávelcom os guardiões da velha casta.

Mas, infelizmente, ainda não é tão claramente visível e têm suficiente destaque na agenda das lideranças políticas planetárias, o combate prioritário e sem tréguas ao grande inimigo invisível com poder suficiente para arrasar as conquistas dessa nova civilização. Insidioso, está presente “em” todos os países e “entre” muitas das nações do globo, movimentando seus tentáculos maldosos para esmagar as esperanças de uma vida melhor para centenas de milhões de seres humanos.

Esses tentáculos tomam formas conhecidas, como fome, mortalidade infantil, doenças, analfabetismo, discriminação racial e sexual, má qualidade da educação, injustiças, má distribuição da riqueza, xenofobia, fanatismo, falta de oportunidades, desigualdade social, miséria, más condições de vida, insalubridade, falta de água, em soma, morte da esperança de uma vida digna.

Interessante e preocupante ao mesmo tempo: esse inimigo invisível pode ser eficazmente combatido e eliminado, em muitos casos, com apenas 5% (cinco por cento!) dos recursos usados para salvar os descalabros das finanças do “sistema”. E, agindo assim, poder-se-ia garantir, eficaz e longamente, a sobrevivência da nova ordem.

Será pedir muito?

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A OUTRA FACE

A globalização não tem pai nem mãe, não tem profetas nem fundadores, muito menos objetivos, compromissos ou responsabilidades. Tem, isso sim, vítimas e aproveitadores.

Simplesmente aconteceu em algum momento esquecido nos primórdios da humanidade quando os homens, sem saber bem porque, buscavam pela violência ou pelo convencimento, partilhar os bens que as circunstancias e a natureza colocava a seu alcance.

Como não tem regras nem códigos de ética para obedecer, é livre para fazer o bem ou criar o mal, favorecer uns ou prejudicar outros, impulsionar ondas destruidoras – vide “crise” atual – ou permitir que o mundo desfrute da bonança do crescimento, como aconteceu nos últimos anos.

É bem verdade que através dos séculos, na sombra de toda teoria econômica inventada pelo homem, esse fenômeno foi se fortalecendo e ganhando espaço num planeta cansado de tanta exploração e desatinos. Isso, até chegar ao ápice nas últimas décadas, quando os interesses dos que tudo podem encontraram o aliado ideal no casamento da tecnologia com os mercados.

Esses três – interesses, tecnologia e mercados - têm como padrinhos de honra o egoísmo, a cobiça, a indiferença e um materialismo desenfreado para assolar os recursos (finitos) do planeta.

Em tempo: analistas da UNCTAD calculam que se toda a humanidade tivesse o mesmo nível de consumo que aquele dos EE.UU. em 2007, seriam necessários 4-5 planetas Terra para atender essa fabulosa demanda!

Esse é o lado obscuro da globalização, em luta permanente com sua face radiante, que está (ou parece estar) orientada para a paz, a qualidade de vida, o desenvolvimento sustentável e a justa distribuição da riqueza universal.

O que fica meio difícil é tentar explicar a alguém que perdeu seu emprego ou seu negócio, em qualquer lugar do mundo, em função direta (ou indireta) da chamada “crise”, é que isso ocorreu em conseqüência dessa “tal globalização” que agora está mostrando um de seus aspectos mais sórdidos. E que muito provavelmente tudo começou porque dezenas de banqueiros – ou melhor, altos executivos do sistema, especialmente nos países ricos - deixaram que a ganância falasse mais alto que a prudência. E que tiveram a colaboração irresponsável de alguns milhões de consumidores afoitos, daqueles que gastam mais do que podem.

Claro, o descontrole e falta de regras adequadas por parte das instituições financeiras, tanto as nacionais como as internacionais, teoricamente criadas para controlar os excessos do sistema, também deram uma ”mãozinha”, cúmplices que são dos descalabros do "sistema".

E não deixa de ser justa a pergunta: “O que tenho eu com isso”?

Infelizmente, todos estamos no mesmo barco, ainda que alguns viagem na primeira classe e a maioria se amontoa nos frios porões da nau – agora sem rumo – da “globalização”.

Mas, o futuro ainda não foi escrito.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

OS CÚMPLICES


O impacto devastador do cataclismo das finanças mundiais – e de sua irmã gêmea, a economia global – vai antecipar a mudança da arquitetura do “sistema” - aqui definido como o "grande arranjo entre os amigos que monopolizam o poder ” - que teve início, nos tempos modernos, quando Adam Smith - sem dúvida, uma das mentes mais lúcidas que enriqueceram o saber econômico da humanidade – publicou sua mais que famosa “Riqueza das Nações”, em 1776, proporcionando às minorias dominantes da época a base teórica do modelo capitalista&liberal, instrumento ideal para geração de riquezas........ás custas da maioria! Isso, sob a justificativa infalível de que “o fim justifica os meios”.


Nada de novo, porque o mundo sempre foi moldado pela força - ou pela ameaça de se uso – e aqueles que, de um modo ou outro, detinham poder econômico (nações, grupos, corporações) também tinham farto acesso e controle das armas e de seu poder coercitivo.


O que causa espanto – e muita desconfiança, diga-se de passo – são as dimensões do caos internacional, o envolvimento ruinoso das maiores empresas do mundo numa roda viva efeito-causa-efeito e a incapacidade (ou, quem sabe, também a prova de incompetência descomunal?) para antecipar dificuldades por parte dos executivos que integram os círculos dirigentes das empresas transnacionais – exemplo triste, General Motors - das grandes instituições mundiais – como o Fundo Monetário Internacional – e os Estados do Primeiro Mundo e seus Bancos Centrais.


As vezes até parece que na luta para manter cargos – e seus benefícios extraordinários – as elites dirigentes optaram por ignorar (esconder?) a real dimensão dos problemas. E que, individualmente, não é de bom tom comentar possíveis catástrofes e correr o risco de ser tachado como pessimista, imagem incompatível com a postura tradicional do executivo bem sucedido. Bem, é claro que podem existir outros motivos condenáveis os quais, em certos casos, poderão vir à luz no futuro.


Mas, o que é muito difícil de engolir é que, de uma hora para outra, instituições financeiras e empresas, tidas entre as mais sólidas, respeitadas e confiáveis do planeta, apareçam de joelhos pedindo – pelo amor de Deus! – auxílio aos governos, ou vendendo seus ativos ao preço da desesperação ou simplesmente, entrando em falência.


E tem mais:esse dinheiro salvador, não tenham dúvida, sairá do bolso dos consumidores (contribuintes), tanto de forma de mais impostos como, o que é muito pior, na redução de serviços e de obras essenciais para a qualidade de vida da população, lembrando que na vida real sempre a fatura maior é paga pela maioria que menos têm.


E não devemos esquecer que se têm uns vilões que merecem paredão são as “famosas-infalíveis- respeitadas-temidas-poderosas” agencias de classificação de riscos - leia-se Standard & Poors, Moody`s, Fitch e congêneres as quais, por dever de ofício, deveriam ter emitido os sinais de alerta em

tempo hábil, o que ajudaria a reduzir os estragos. Ao final das contas, servem para quê mesmo?


Essas, têm culpa no cartório que registra as falcatruas do “sistema”.

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