quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

A PORTA ENTREABERTA


A IX CONFERÊNCIA MINISTERIAL DA OMC (Organização Mundial do Comércio) realizada entre  04-07/12/2013 na paradisíaca ilha de Bali, principal destino turístico da Indonésia, será lembrada por ter sido o palco do mais importante acordo alcançado pela entidade mundial nos últimos 20 anos.

Fato a destacar, estavam presentes todos os grandes players dos negócios internacionais, como  EUA,  China, Alemanha, Japão, França, Reino Unido, Países Baixos, Coréia do Sul, etc.

 Foi, também é bom assinalar, uma vitória notável de um brasileiro, o diretor-geral da OMC, Roberto Azevedo, há pouco empossado no mais alto cargo da entidade, quem perseguiu com singular obstinação e habilidade diplomática a obtenção de um consenso entre os 159 membros da organização, sintetizado no denominado “Pacote de Bali”
.
O Pacote avança, entre outras, em três questões chaves: Na agricultura, com um compromisso de reduzir os subsídios às exportações;  na assistência ao desenvolvimento, que prevê uma isenção crescente das tarifas alfandegárias para os produtos procedentes dos países menos desenvolvidos; e na simplificação de intercâmbios, que pretende reduzir a burocracia nas fronteiras.

Particularmente, pela sua relevância para os países da América Latina e porque são um item estratégico na agenda de negociações, os subsídios agrícolas, que têm na União Européia e nos EUA,. seus maiores expoentes, tem sido um dos principais fatores que impediram o sucesso de negociações passadas e devem exigir esforços redobrados dos negociadores. Aliás, a UE destaca para subsídios um monto de 500 bilhões de euros por ano no seu orçamento até 2020!

Ainda que para muitos analistas (pessimistas) Bali significa apenas algo como 10% de tudo aquilo que deve ser negociado, ninguém pode negar que esse foi um primeiro grande passo no longo caminho para vencer os formidáveis obstáculos existentes para atingir resultados mais ambiciosos.

Como ponto fundamental, entre seus incontáveis benefícios muitos dos quais somente palpáveis na medida em que o tempo passa, o acordo foi absolutamente essencial para destravar a Agenda de Desenvolvimento de Doha o a (Rodada de Doha), considerada a mais completa e ambiciosa negociação econômica mundial empreendida pelas Nações Unidas, sob direção e coordenação da OMC.

A Rodada, emperrada desde 2008, com reunião programada para 2015 graças ao Consenso de Bali, vai ter uma preparação mais tranquila e com maiores possibilidades de concordância nos trabalhos preparatórios que serão realizados nos próximos 12 meses e que formatam a agenda do próximo encontro, o qual deve aplainar significativamente o caminho para um crescimento mais substancial do comércio mundial e dar um enorme aporte  para que esse intercambio seja pautado pela previsibilidade, fluidez e liberdade, escopo-síntese da organização planetária. E, como admirável efeito colateral, acelerar o ritmo de avanço da economia global.

Outrossim, não pode esquecer-se que muitos dos problemas atuais são os frutos de incontáveis circunstancias, muitas delas validadas no sincero desejo de defender aquilo que cada nação acha necessário para proteger sua população e seu desenvolvimento. Mas também, infelizmente, não é possível deixar de lado outros atores influentes, esses de legitimidade duvidosa, que contribuíram para os aspectos mais nocivos do comércio entre as nações e que obstaculizam o processo desejado pela OMC.

Entre esses criadores de “casos” merecem registro os lobbies e muitas das grandes corporações multinacionais que sempre tem feito o que acham necessário para resguardar, aumentar, monopolizar, blindar e, se possível, eternizar seus negócios, ainda que nem sempre cabíveis sob o prisma do bem público e do melhor interesse dos países hospedeiros. E claro, tendo sempre na mão o recurso mal-intencionado da corrupção para atingir seus propósitos.

Uma ideia do caminho a percorrer está retratada nas palavras  de Roberto Azevedo no final do encontro: “Este pacote não é o fim, senão um começo”.






quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

LUZES NA TRILHA

Existe uma evidente preocupação entre as lideranças mundiais sobre os rumos da crise globalizada e até que nível continuará exercendo seus efeitos ruinosos nos próximos anos sobre o crescimento, o comércio exterior, os investimentos, o emprego e a confiança, de países, empresas e pessoas

Em menos de seis anos conjunturas difíceis açoitaram as economias lideres do mundo – especialmente, nos EUA e na Europa – com seu rastro de devastação impiedosa sobre o resto de planeta, castigando sempre mais os que menos têm e mais precisam, norma consagrada desde tempos imemoriais para a manutenção do “sistema” vigente. Em tempo: A “crise” deste início de Século já custou cento e sessenta milhões de empregos e reduziu pela metade as taxas de desenvolvimento de quatro de cada cinco países do planeta.

Inevitavelmente, as lideranças mundiais se debruçam na busca de explicações e soluções para tentar evitar que acontecimentos similares venham a perturbar a tranqüilidade desejável – sempre caprichosamente mutável - que permita dar mais previsibilidade aos acontecimentos dos tempos que virão.

Entre outras soluções fundamentais, parece ganhar espaço no saber convencional dos principais responsáveis pela governança planetária que os caminhos para alcançar esse futuro almejado passa, obrigatoriamente, pela solução dos grandes problemas mundiais, que abrangem temas como exclusão social, educação, pobreza, direito das minorias, convívio entre etnias e religiões, integração econômica, controle de armamentos, soberania, meio ambiente, ética na política, corrupção, comércio internacional, papel das Nações Unidas, desenvolvimento sustentável, enfim, os temas cruciais podem estender-se e preencher as agendas dos diferentes fóruns internacionais que procuram uma saída para os tempos difíceis que vivemos hoje e que são uma evidente ameaça para o futuro da humanidade.

Ricardo Lago, ex-presidente do Chile e presidente em exercício do Clube de Madrid - organização internacional que patrocina mecanismos para consolidar a democracia e a paz e que tem a participação de mandatários de muitos países, tanto os que estão em exercício como os “ex”, abriu um recente encontro internacional para analisar as incertezas desses tempos sombrios, com palavras contundentes: “Os desafios que dão forma a presente crise são sistemáticos e estão longe de implicar apenas às instituições financeiras. Temos na nossa frente à oportunidade sem precedentes de repensar o modo no qual as lideranças fizeram as coisas no passado e de promover reformas importantes para alcançar um modelo mais adequado para atender as necessidades da sociedade, o que resulta fundamental para sustentar e solidificar a democracia”. 

Também, o ex-presidente espanhol, Felipe González, na sua coluna de “El País”, de Madri, afirmou "a necessidade de um esforço de construção de uma nova ordem internacional para o Século XXI, onde espaços supranacionais como a União Européia e o MERCOSUL, poderiam configurar uma nova forma de governabilidade mais equilibrada, mais cooperativa, mais solidária”.

O que reforça a idéia que os países do Cone Sul podem trazer uma contribuição muito mais importante para amenizar e solucionar os problemas latentes em cenários que hoje apresentam um elevado potencial de instabilidade. Daí, nunca é demais reiterar a imperiosa necessidade de uma sólida aliança entre os países da região, essencial para a formatação de uma zona onde imperassem a paz e a democracia, condições fundamentais para o desenvolvimento, o bem-estar de seus povos e o respeito da comunidade internacional.

Nesse contexto, num mundo que tem revelado uma tendência clara para a formação de grandes blocos econômicos, a possibilidade de um Acordo de Livre Comércio entre a UNIÃO EUROPÉIA  e o MERCOSUL é um caminho que merece ser cuidadosamente ponderado como uma oportunidade real de acelerar o progresso desta parte de América.

UMA NOVA ORDEM



 Os mais sábios afirmam que as crises são cíclicas, inevitáveis e servem para pôr a prova o direito real do homem à sobrevivência. Tem, para muitos, o efeito de uma capina de  proporções gigantescas, que vai possibilitar o desenvolvimento sadio da  planta-mãe da  prosperidade. Até porque, de um modo ou de outro, tem sido assim desde os tempos bíblicos.

 Nos últimos anos, essa “capina” tem sido particularmente severa  nos países emergentes, o Brasil no meio, que devem pagar o preço das loucuras da má gestão econômica/financeira de alguns, do consumismo desenfreado de outros e da volatilidade de uma massa fantástica de recursos que, sem rumo e sem pátria, procura apenas o lucro, “duela a quién duela”. Nessa insanidade, que hipoteca o futuro, as grandes e mais ricas nações do mundo tem culpa redobrada, dando a impressão de contemplar o mundo do alto de sua soberba sempre pródiga no velho conselho: “Façam o que eu digo, não o que eu faço”.  Traço típico do um colonialismo caduco!

Assim, os mais fracos - países, empresas e pessoas--  são os que pagam a maior parte da conta gerada pela ineficiência mundial em formular e adotar sistemas mais seguros de convivência econômica/financeira.

Daí resulta imperioso estabelecer-se um sistema que procure harmonizar os interesses das nações mais poderosas com os justos anseios das menos afortunadas que, por outra parte, serão melhores mercados quanto mais ricas e menores sejam suas necessidades de ajuda internacional.

Sem esquecer-se que a forma do jogo econômico para os próximos anos já está delineada  numa interdependência cada vez mais forte, onde todos dependem de todos,  numa espécie de imenso carrossel  onde o equilíbrio é obtido, ainda que precariamente, na continuidade do movimento.
A “crise” desse começo de Século foi um vivo exemplo de como são fortes as amarras que prendem as nações e suas componentes chaves.

Mas, até que forçados pelas circunstancias, já é possível vislumbrar-se a possibilidade de mudanças que poderão consolidar conceitos inovadores sobre como os efeitos do crescimento podem ser geradores de uma forma mais justa de distribuição da riqueza, desde que privilegiando a consolidação de uma nova visão do processo econômico, menos egoísta e mais direcionada para valorização da pessoa como ser social e objetivo primeiro dos sistemas de geração de riqueza.

Tanto é assim que em diversos pontos do mundo, inclusive no Brasil, movimentos iniciados por lideranças que possuem a sensibilidade e a ousadia de tentar formular novos paradigmas, começam a esboçar um novo modelo que, na sua essência,  pretende oferecer alternativas para substituir as regras do jogo das nações e das empresas pelo predomínio a qualquer custo. E até que trazendo a tona muito da teoria alemã de desenvolvimento das décadas de 50/60, traduzida nos conceitos de “economia social de mercado”, firmemente entrelaçados com o respeito e preservação do meio ambiente.

Penso que no Brasil as principais lideranças precisam abrir espaço para o debate dessas novas idéias, contribuindo de vez para colocar no foco das discussões tanto as teorias econômicas tradicionais como os princípios duma nova forma de produzir e distribuir riqueza nesse nosso planeta globalizado.

Inevitavelmente, os próximos anos serão pródigos em idéias e propostas arejadas para que os 80% da população mundial deixem de pagar uma boa parte da fartura dos 20% mais abastados.